Após um mês, obra na rua Mirassol ainda não tem data para começar

Pouco mais de um mês após a abertura da cratera na Rua Mirassol, no bairro de Felipe Camarão, zona Oeste de Natal, em virtude das fortes chuvas que caíram na capital, famílias relataram à TRIBUNA DO NORTE que seguem desassistidas. Neste período, o buraco aumentou de tamanho e está prestes a “engolir” as casas. Do ponto de vista da reconstrução da rua, o prazo inicial estimado para conclusão era de dois meses, mas passados 32 dias, a obra sequer começou. A Secretaria de Infraestrutura de Natal (Seinfra) informou que ainda aguarda uma resposta da Defesa Civil Nacional para iniciar os trabalhos de reestruturação da via.

A área foi isolada com tapumes, mas não impede a entrada de crianças, que brincam em meio aos escombros e as tubulações à mostra. Ao todo, de acordo com a Defesa Civil natalense, 31 imóveis foram interditados na região por risco de desabamento. O aposentado Luciano de Lira, de 72 anos, foi um dos que precisou deixar a casa que morou por 50 anos às pressas. Ele lembra que saiu da residência com o filho, a esposa e o cachorro por orientação da Defesa Civil, mas diz que até hoje não recebeu nenhum tipo de auxílio financeiro. Hoje, Luciano vive em uma casa simples no mesmo bairro, alugada por R$ 250.

“Aqui não deram uma vela para a pessoa se iluminar. Sou analfabeto, mas pelo que eu entendo era para eles fazer a obra e devolver a rua do jeito que ela era. Estou com 72 anos e nunca vivi uma situação difícil como essa, tem dia que não durmo, não como. Eu saí de lá de 1h da madrugada, debaixo de chuva. Saí com meu cachorro, que é mesmo que um filho para mim. A situação da gente é essa, pagando aluguel, água, luz, tudo caro no supermercado. Além disso, tem o prejuízo de roupas, móveis porque tudo ficou se acabando lá dentro das casas”, desabafa Luciano.
Luciano conta ainda que não recebeu nenhum tipo de auxílio e se diz preocupado com o futuro incerto, sem saber se terá a oportunidade de voltar para a casa. “Não veio ninguém aqui, nem para saber se a gente estava vivo. Agora eu tô com a língua queimando, pedindo a Deus que chegue o tempo da política e eles venham aqui pedir voto, posso até sair algemado, mas falar eu falo. Como pode? Um povo que se diz tão estudado, mas não olha pelo povo. Eu só espero agora que eles usem o bom senso e venham fazer essa obra para tirar a gente dessa lasqueira”, declara.
O secretário adjunto da Seinfra, Diogo Alexandre, afirma que a intervenção no local precisou ser reprogramada porque a Defesa Civil federal entendeu que uma obra de restabelecimento não seria suficiente, mas sim uma de reestruturação completa. A Seinfra diz que o prazo estimado para conclusão é de dois meses após o início das obras, mas é justamente esse começo que não tem data para acontecer. Alexandre disse que o Município deve receber um retorno da Defesa Civil Nacional na próxima semana.
Bruno Vital
Luciano de Lira: “Era para devolver a rua do jeito que era”

Luciano de Lira: “Era para devolver a rua do jeito que era”

“O que foi executado na área foi uma ação de resposta. A obra não parou porque a gente nem começou. Estamos no local monitorando para fomentar uma drenagem provisória e também na assistência às famílias. Agora não se pode dizer que a obra parou porque a obra não iniciou ainda. Acredito que a Defesa Civil deve se pronunciar na próxima semana para a gente dar continuidade no andamento. A previsão é: iniciou, com dois meses ela está pronta. Para começar é que a gente não tem a previsão”, comenta Diogo Alexandre, adjunto de Conservação da Seinfra.
Conforme constatou a reportagem da TN, a área foi isolada, mas não havia nenhum profissional monitorando o local. Sacos de areia também foram colocados para tentar conter novas chuvas. O buraco, de aproximadamente 150 metros, que se estende por um quarteirão inteiro, atrai crianças da região, que se arriscam brincando livremente no local. “Aí está assim, abandonado, tem três semanas, os meninos ficam brincando aí. É um perigo de acontecer outra tragédia. É uma tristeza muito grande para a gente que morou aqui a vida toda”, diz a moradora da Rua Mirassol, Maria de Oliveira.
Quem também teve de abandonar a casa onde morava foi Elaine Cristina. Mãe de crianças com autismo e transtorno de déficit de atenção, ela diz que encontra dificuldades para se adaptar à nova vida por causa dos filhos. Morando de aluguel, ela cobra ações efetivas do poder público. “Meu filho, por ser autista, está sofrendo muito, ele tem crise todos os dias. Tive que alugar essa casa porque não estava confortável na casa das pessoas, a gente estava na casa da minha sogra, mas imagine uma casa com cinco pessoas abrigar mais quatro”, diz.
“Aluguei essa casa do meu bolso porque até quarta agora a gente não tinha tido resposta de nada. O prefeito foi na TV dizer que a gente estava sendo assistido, mas era mentira. Temos um grupo dos moradores, a gente se informa, compartilha informações e ninguém recebeu nada do aluguel social da prefeitura. Está para sair na segunda-feira o aluguel social e hoje (ontem) fizemos o cadastro para o auxílio de R$ 1 mil do governo, mas que também não tem data para receber. Em relação à obra está tudo parado”, acrescenta Elaine.
Na quinta-feira (4), moradores da Rua Mirassol interditaram trecho da BR-226 em protesto a demora para recuperação da via. A população ateou fogo em objetos e interrompeu temporariamente o fluxo de veículos na região. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) esteve na via durante o protesto e liberou o trânsito em seguida.