Mulheres disputam vaga na Academia de Letras do RN

Recém-chegada da 26ª Bienal Internacional do Livro, onde expôs suas publicações mais recentes, Naide Gouveia, autora de 39 livros publicados  disputa pela 43ª vez uma vaga na Academia Norte-riograndense de Letras. “Continuo confiante nessa disputa, mesmo após tanto tempo, acreditando que minhas qualidades literárias serão reconhecidas”, afirma a autora que recentemente teve uma de suas crônicas – Escultura de teu corpo – selecionada entre 4 mil textos para a coletânea ‘Reinauguração da Vida. Foram incluídos nesse trabalho, organizado pela escritora Joyce Cavalcante, presidente da Rede de Escritoras Brasileiras (Rebra), textos de 31 escritoras brasileiras.

A Academia Norte-riograndense de Letras escolhe seu novo integrante à  cadeira 32, que pertenceu a Geraldo Melo (1935-2022) nesta terça-feira (2). O ponto curioso dessa disputa é que a imortalidade acadêmica, em 2022, provavelmente recairá sobre uma mulher. Além de Naide Gouveia, há mais duas candidatas: a ensaísta, poeta e escritora Josimey Costa, e a escritora e ex-gestora cultural Isaura Amélia. As duas primeiras estão na disputa pela primeira vez, e têm em comum – principalmente, a experiência como professoras.
A eleição será realizada no horário das 17h às 18h, com resultado divulgado ainda na noite desta terça-feira. A academia tem como patronas as figuras ilustres de Nísia Floresta, Auta de Souza e Isabel Gondim. Entre os 39 acadêmicos atuais em atividade, apenas quatro são mulheres.
Sonho de décadas
Naide Gouveia persiste na candidatura há mais de 40 anos. Do alto dos seus quase 70 anos, comenta que “são poucos os que já escreveram tanto em tão pouco tempo”. Seus últimos nove livros foram escritos durante o período da pandemia do novo coronavírus, dos quais, cinco, são inéditos. “Pare de Fugir”, “O Silêncio Amargo da Inocência”;  “Cruzando Estradas” “Paris e Eu” e  “Brincando com fogo”. “A participação, na coletânea da Rebra, que tem mais de 6 mil escritoras associadas é uma forma de ficar internacionalmente conhecida; e a Bienal, que aconteceu de 2 a 10 de julho deste ano, foi um momento ímpar,  de ter a oportunidade de testemunhar o interesse extraordinário dos paulistas pela leitura. É lastimável não existir isso em nosso Estado”, afirma a escritora.
Naide defende que os governos devem incentivar a leitura nas escolas e nas universidades. Ela tem deixado suas obras em várias  escolas públicas. “Seria importante que cada um dos imortais incentivasse a leitura, que os governos incentivassem a leitura e que o ensino fundamental construísse adolescentes com alto nível de conhecimento literário e de lá saíssem grandes escritores. Um incentivo com uma bienal é fantástico”, afirma. Ela acredita que seu nome na academia pode ajudar a disseminar o hábito pela leitura, dentro e fora das escolas.
A escritora nascida em Natal, e originária de uma família de advogados, médicos, militares e escritores, manifestou muito cedo o interesse pelos livros de contos, crônicas romances e literatura de cordel. Aos dezesseis anos começou a compondo poemas, escrevendo-os em seu diário. No exercício do magistério procurou desenvolver nos seus alunos o hábito da leitura, em especial textos literários.
Cedida
Josimey Costa acredita que sua presença na tradicional academia pode construir novas pontes

Josimey Costa acredita que sua presença na tradicional academia pode construir novas pontes

Pontes geracionais
Após 35 anos de uma marcante carreira docente na UFRN, entre jornalismo, ciências sociais e antropologia, Josimey Costa pôde pensar em novas perspectivas para sua trajetória intelectual. “Estava tão envolvida na minha vida acadêmica que não pensava em outra coisa. Escrevia poesia, contos e ficção, mas não conseguia me dedicar a isso regularmente. Quando consegui parar para me dedicar mais à escrita, pensei na ANRL como uma possibilidade”, diz.
Josimey acredita que sua presença na tradicional academia pode construir novas pontes. “A experiência como docente me permitiu ter um diálogo mais presente com as gerações mais jovens, de pontos de vista culturais, sociais e antropológicos. Poderíamos criar cursos, oficinas, que atraiam os jovens. O interesse pela literatura ainda está aí, não sumiu, mas concorre com outras mídias e apelos. A gente pode chegar nisso”, diz.
A escritora, nascida em Guarulhos (SP) e radicada no RN, afirma que também poderia sintonizar mais a ANRL com as mídias digitais, visando reverberar sua produção cultural para um público maior. Josimey já publicou livros científicos e de contos; artigos e poemas em coletâneas, periódicos, e publicações digitais; dirigiu e apresentou programas de TV, editou revistas, e realizou  projetos como “Cinema na praça”.
Adriano Abreu
Isaura Amélia aposta em sua experiência na gestão cultural

Isaura Amélia aposta em sua experiência na gestão cultural

Gestão de ideias 
“É a primeira vez que estou me candidatando a alguma coisa na vida”, brinca Isaura Amélia. Apesar de iniciante na candidatura a “imortal”, sua experiência no meio cultural é das mais longevas. Foi quatro vezes gestora da Fundação José Augusto, além de secretária adjunta de educação,  tendo oportunidade de projetar bibliotecas, criar editais culturais, e publicar livros – seus e de muitos outros autores. Segundo ela, publicou mais de 120 livros em suas gestões.
A mossoroense, que já atuou como professora em áreas tão diferentes como planejamento agrícola e ciências sociais, tem especial predileção pelo estudo das artes plásticas. Ela integra a Sociedade Amigos da Pinacoteca Potiguar, e acredita que sua presença na ANRL pode abrir um espaço para esse segmento na casa. “Sinto que faltam mais ações na academia que pensem nas artes visuais como uma possibilidade atrativa. Acredito que minha experiência em gestão cultural poderia movimentar bastante novas atividades nesse e em outros segmentos”, diz. Em julho, Isaura lançará um livro sobre o pintor retratista Moura Rabello.