Clínicas estudam venda de vacina contra covid em Natal

As vacinas contra a covid-19 começaram a chegar nas clínicas privadas do País, na terça-feira (31), mas ainda não há definição quanto a venda dos imunizantes no Rio Grande do Norte. A AMI Vacinas, clínica localizada no conjunto Mirassol, em Natal, ainda estuda a possibilidade. A Viva Imunne e a Vacina Clínica de Imunização informaram que “até o momento” não há posicionamento sobre o assunto, mas não descartam ofertar as doses futuramente. A Associação Brasileira de Clínicas de Vacinas (ABCVac) estima que as doses devam custar entre R$ 300 e R$ 350.

De acordo com a gerente de enfermagem da AMI, Kátia Mary, a diretoria da empresa se reuniu na manhã da terça-feira para discutir a necessidade e viabilidade da importação das doses. A decisão sobre a venda do produto passa por um consenso dos sócios-proprietários.
“Estamos fazendo essa avaliação com a diretoria da casa para saber se realmente vale a pena ter a vacina na casa nesse momento.
 Soubemos na terça desse início da vacinação da covid na rede privada, recebemos algumas ligações para saber como iríamos proceder daqui para a frente, realmente agora o momento é de avaliar. Ainda não temos valores, informações concretas porque estamos justamente tentando reunir os detalhes para saber qual decisão tomar”, comenta Kátia Mary.
O epidemiologista Ion de Andrade diz que o início da “vacinação extra” nas unidades particulares não afeta a campanha de imunização pública. “A vacinação não é uma coisa individual, só funciona se houver um esforço coletivo. O fato de que a lógica do mercado vai se estabelecendo não altera o contexto da vacinação. Na medida em que a covid ganha ares de uma doença, que vai ter que ser enfrentada no longo prazo, ela entra na lógica das demais outras, isto é, das doenças que têm vacinas e que estão disponíveis nas clínicas privadas”, explica o médico.
Outros imunizantes da cartilha do Ministério da Saúde já são comercializados na rede privada, como as vacinas contra hepatite, febre amarela, poliomielite ou paralisia infantil e BCG.
Mesmo sem a confirmação de que as vacinas contra a covid chegarão às unidades particulares de Natal, Kátia Mary, da AMI Vacinas, conta que já vem recebendo ligações de clientes, que querem tomar a vacina no centro privado. “Foi até surpreendente porque a população já está buscando bastante. Nosso WhatsApp está bombando de tantas perguntas: quantas doses? Quando vai chegar? Vocês já compraram as vacinas? Tudo isso já está sendo questionado”, afirma.
O médico Ion de Andrade diz que a possibilidade da oferta responderia, justamente, a essa demanda de mercado. “Não tem nada a ver com saúde pública, a saúde pública está sendo enfrentada e deveria, portanto, ser ampliada porque tem muita gente que ainda não se vacinou, no contexto da oferta pelo poder público. O fato de que clínicas vendam vacinas, não só da covid, está dentro de como a nossa sociedade funciona”, complementa.
Uma das preocupações dos profissionais da AMI Vacinas é em relação a um possível desperdício. Isso porque após a abertura de um frasco, todas as doses devem ser aplicadas em um determinado intervalo de tempo. “São caixas com dez frascos e cada frasco tem dez doses, então você tem que utilizar durante três horas. Se não utilizar, mesmo que a gente tenha aplicado só duas doses, nós teríamos que jogar fora as oito doses restantes daquele frasco. Então será que valeria a pena nós termos essa vacina agora? É algo que está sendo discutido internamente. De repente poderia esperar pela vacina de seringa preenchida, como é a da gripe, tudo isso está em análise para posterior decisão”, comenta a profissional da saúde.
Vacina é a mesma usada na rede pública
Ao todo, cerca de dois milhões de doses da vacina da AstraZeneca foram importadas inicialmente pelo setor privado. Os lotes foram encaminhados para clínicas do Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte, segundo a Associação Brasileira de Clínicas de Vacinas (ABCVac). O imunizante é  o mesmo da rede pública, que é produzido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
A associação informou ainda que não participa do processo de compra nem faz intermédio comercial, e que todo o trâmite de aquisição das doses é feito diretamente entre fabricante e distribuidor. Por esse motivo, diz a ABCVac, não é possível precisar quantas clínicas já estão aplicando as doses.
A AstraZeneca foi a única que demonstrou interesse em negociar com o mercado brasileiro até então, de acordo com a associação representativa. Um dos motivos para a comercialização no setor privado, justifica a ABCVac, é que a aplicação da vacina deverá se tornar “de rotina”.
“Esperamos que com o passar do tempo e o controle total da pandemia, a vacina de covid venha a se tornar uma vacina de rotina, como a de gripe, por exemplo. Acreditamos que em algum momento haverá um estreitamento da faixa etária e grupos vacinados pelo PNI, e assim as clínicas atuarão como complemento e para aqueles não elegíveis, como já acontece na vacina de gripe”, diz a associação em nota.
No documento, a ABCVac orienta que a clínica deve checar as doses que o paciente já recebeu, além de informar o agendamento. “Essa vacina não será de busca espontânea. Cada paciente deve entrar em contato com sua clínica de confiança, se informar e fazer agendamento conforme a disponibilidade de doses, pois os frascos após abertos têm 48 horas de validade, dessa forma, deve haver um planejamento para não haver desperdício”.
A orientação é que, para a terceira dose, todos acima de 18 anos podem tomar, independente do esquema primário, desde que faça pelo menos quatro meses que recebeu a segunda dose. Como quarta dose, caso esteja fora da faixa que o governo aplica hoje (+60 anos e imunossuprimidos), todos acima de 18 anos podem tomar, desde que tenha uma prescrição médica e faça pelo menos quatro meses da terceira dose. Os maiores de 18 anos que não tomaram nenhuma dose também podem ser imunizados nas clínicas privadas.
A vacina não pode ser aplicada em menores de idade porque ainda carece de autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Apesar deste tipo de vacina ser exclusiva para venda, a aplicação deverá ser registrada nos painéis de controle do Ministério da Saúde.