No Dia do Servidor Público, advogada especialista em Direito Administrativo e Direito Público aponta aumento de ações sobre aposentadoria, licenças, progressões e concursos
O Dia do Servidor Público, celebrado em 28 de outubro, é uma data de reconhecimento, mas também de reflexão sobre os desafios enfrentados pelos milhões de profissionais que compõem a máquina pública no Brasil. Entre eles, um fenômeno tem chamado cada vez mais atenção: o crescimento da judicialização envolvendo servidores. Aposentadorias, licenças, progressões de carreira e concursos públicos estão entre os temas mais acionados nos tribunais, revelando uma lacuna preocupante entre o que a lei garante e o que é, de fato, cumprido pelas administrações públicas.
Para a advogada Dra. Mylena Leite, especialista em Direito Administrativo e Direito Público, a escalada de ações judiciais mostra que muitos servidores precisam recorrer ao Judiciário para assegurar direitos básicos já previstos em lei. “É preocupante perceber que, em vez de encontrar respaldo imediato dentro da gestão pública, o servidor se vê obrigado a buscar a Justiça para obter garantias que já deveriam estar implementadas. A judicialização é sintoma da omissão e da ineficiência do poder público”, afirma.
O cenário é confirmado por levantamentos recentes. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) mostra que as ações relacionadas a servidores estão entre as mais frequentes na Justiça Federal e Estadual, com destaque para disputas sobre aposentadorias. Questões como tempo de contribuição, integralidade dos vencimentos e aplicação das regras de transição da Previdência respondem por uma grande parte das demandas. Além disso, licenças médicas, maternidade e afastamentos legais também são alvo constante de judicialização, diante de negativas ou restrições impostas por órgãos públicos.
As progressões e promoções de carreira figuram como outro ponto crítico. Em diversas esferas, planos de cargos e salários não são aplicados corretamente ou sofrem atrasos injustificados. Professores, profissionais da saúde e policiais, entre outras categorias, relatam esperar anos por direitos assegurados em legislação específica. “A demora em implementar progressões funcionais desestimula os servidores e enfraquece a confiança no Estado como empregador. Isso compromete a motivação e a eficiência do serviço público”, observa Dra. Mylena.
O campo dos concursos públicos, tradicionalmente visto como porta de entrada para carreiras estáveis, também tem sido alvo de judicialização. Editais com irregularidades, falhas em provas, excesso de contratações temporárias em detrimento de concursados aprovados e até suspensões de certames são questões levadas frequentemente ao Judiciário. Para a especialista, esse quadro representa um retrocesso. “O concurso público é a forma mais democrática e transparente de ingresso no serviço público. Quando esse mecanismo é enfraquecido ou desrespeitado, toda a sociedade perde”, pontua.
Diante desse panorama, Dra. Mylena Leite reforça que a valorização do servidor público, lembrada na data de 28 de outubro, passa necessariamente pelo respeito às normas constitucionais e administrativas. “O servidor não busca privilégios, busca segurança jurídica. É dever do Estado cumprir a lei e evitar que os profissionais tenham que se socorrer do Judiciário para fazer valer direitos básicos”, conclui.
