Uma mudança nos contratos médicos terceirizados em Natal tem gerado uma crise sem precedentes nos serviços de saúde pública da cidade. Desde que a Prefeitura substituiu a Coopmed pelos grupos Justiz e Proseg no início de setembro, falhas nas escalas e cancelamentos de cirurgias têm prejudicado milhares de pacientes.
O Hospital Infantil Varela Santiago já registrou ao menos 72 cirurgias suspensas até esta sexta-feira (5). Além disso, unidades básicas de saúde (UBSs) e pronto-atendimentos (UPAs) estão operando com escalas incompletas, agravando o cenário crítico na capital potiguar.
A principal mudança no modelo de contratação envolve o vínculo dos médicos com as novas empresas. Apesar do aumento no valor bruto por plantão — que passou de R$ 1.660 para R$ 1.950 — os profissionais afirmam que recebem menos na prática. Apenas R$ 1.200 são destinados ao médico após os descontos aplicados pelas contratantes.
O secretário municipal de Saúde acusou o Sindicato dos Médicos do RN (Sinmed) e a antiga prestadora Coopmed de pressionarem os profissionais a não aderirem aos novos contratos. O presidente do Sinmed negou as acusações e afirmou que não houve qualquer tipo de coação por parte da entidade sindical.
A Prefeitura defendeu que os novos contratos incluem especialidades antes não contempladas, como neuropediatria, justificando o aumento no valor anual dos acordos, que pode alcançar R$ 208 milhões — contra os R$ 144 milhões previstos no contrato anterior com a Coopmed.
Enquanto o impasse segue sem resolução definitiva, pacientes enfrentam longas esperas por atendimento ou têm suas consultas canceladas. A crise expõe fragilidades na gestão da saúde pública e levanta questionamentos sobre o impacto das decisões administrativas na vida dos cidadãos que dependem do SUS.