Por Malu Gaspar: Aliados de Haddad fazem campanha para diminuir resistências do mercado à sua ida para a Fazenda

Foto: Sérgio Lima

O problema é que, cada vez que a cotação de Haddad sobe no mundo político, o mercado financeiro se abala. Só na última semana, os juros futuros vencendo em 2024 chegaram a um pico de 15% — a taxa atual é de 13,75% — , num movimento que a Faria Lima atribuiu ao “fator Haddad”.

Isso porque, no mercado, ele é tido como alguém dogmático, arrogante e avesso à disciplina fiscal – uma espécie de “professor de Deus”, imagem com a qual o potencial ministro da Fazenda sempre se incomodou.

A seus interlocutores mais frequentes no mundo financeiro, não foram poucas as vezes que ele reclamou de não ser compreendido e de não ser “nada disso que falam”.

Para pelo menos três gestores com quem conversei nos últimos dias, o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha (PT-SP), que durante toda a campanha funcionou como emissário de Lula nas discussões com integrantes do mercado, seria alguém de diálogo mais fácil, igualmente de esquerda, mas “que sabe ouvir”. Padilha se elegeu deputado federal em outubro e também sempre figura nas listas de possíveis ministros.

Justamente para tentar diminuir as chances de uma eventual confirmação no ministério ser mal recebida e provocar ainda mais alteração no mercado, nos últimos dias, pelo menos três aliados de Haddad no setor financeiro – investidores e gestores de recursos influentes – desencadearam uma “campanha de esclarecimento” a respeito dele

Em uma série de ligações a alguns dos principais formadores de opinião da Faria Lima, esses gestores recorreram a argumentos que o próprio Haddad costuma usar para tentar demonstrar que, se for ele o escolhido, “não será ruim”.

Um desses argumentos é o de que, embora se considere de centro esquerda e seja a favor do ensino público e gratuito, Haddad não se furtou a conceder subsídios às instituições privadas, por meio do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies), para ampliar a quantidade de brasileiros no ensino superior de 2,6 milhões de alunos em 2005 para 7 milhões no final de sua gestão, em 2012.

Nas conversas, esses amigos procuraram combater a imagem de arrogância e demonstrar que o preferido de Lula pode ser de esquerda, mas é pragmático – “um cara de metas”, como ele mesmo diz.

Apesar de toda a resistência, porém, os aliados mais próximos de Lula hoje não têm grandes dúvidas de que Haddad é o favorito para a Fazenda.

Até por isso, nos últimos dias passou a ser muito comentada no petismo a possibilidade de que o economista liberal Persio Arida, ex-presidente do Banco Central e do BNDES no governo Fernando Henrique, seja nomeado para o ministério do Planejamento, como forma de contrabalançar o mau humor do mercado com Haddad.

O Globo