Dentista transforma clínica em galeria de arte em Tirol

É clínica ou galeria de arte? Essa fronteira, que muitos achariam até improvável existir, foi atravessada pelo novo espaço do experiente odontólogo Dickson Fonseca. O local, aberto em setembro, ocupou um casarão cheio de história no coração do Tirol, que teve suas qualidades arquitetônicas do século passado restauradas, e os velhos corredores e salas preenchidos com obras de arte. A casa foi residência da médica infectologista Giselda Trigueiro (1934-1986), cuja elegância foi tão notória quanto seu trabalho na medicina potiguar. A própria residência é uma obra de arte que inspirou Dickson a conservá-la da forma mais harmônica possível.

Dickson conta que a casa chegou a ele de forma inesperada. “Eu tinha uma clínica na rua Mossoró há 28 anos, e já precisava de um espaço maior. Um cliente sugeriu essa casa, que estava fechada há quase quatro anos”, diz. Foi paixão à primeira vista. O odontólogo ficou fascinado com o acervo de arte e a estrutura da casa, uma típica construção  classe média alta da década de 60. “Minha prioridade passou a ser conservar a casa, mesmo adaptando-a da melhor forma para funcionar como uma clínica odontológica”, ressalta.
O odontólogo convocou a arquiteta Gracita Lopes e um engenheiro com experiência em ambientes antigos para conduzir os trabalhos. Segundo ele, foi complicado refazer toda a parte elétrica e hidráulica da casa, ao mesmo tempo mantendo sua estrutura original, e fazendo as adaptações necessárias para ter funcionalidade. “Por incrível que pareça, foram apenas três meses de obras, algo que só foi possível por causa de muito planejamento prévio”, diz.
Magnus Nascimento
Dentista Dickson Fonseca precisava de um novo espaço para a sua clínica. Ele se apaixonou por um casarão em Tirol

Dentista Dickson Fonseca precisava de um novo espaço para a sua clínica. Ele se apaixonou por um casarão em Tirol

Refinamento artesanal
As belezas artísticas da antiga casa de Giselda fazem parte de sua própria estrutura. Dickson cita primeiramente o piso original, que ele manteve conservado em diversos pontos. São feitos de combinações de granito e mármore semelhantes a um porcelanato. Houve um processo de retirada de cera. Foram retiradas camadas de cera de cima deles, restituindo seu brilho original. Outra preciosidade são os três painéis de Francisco Brennand (1927-2019), artista plástico pernambucano famoso por suas cerâmicas. Um painel de azulejos vitrificados está na recepção, e os outros dois são externos.
A parte do salão que se conecta com o primeiro andar é um achado completo: há uma pintura do multifacetado Newton Navarro (1928-1992) sobre azulejos brancos, representando seus clássicos temas sertanejos; outra pérola é a escadaria de mármore, cujo corrimão de madeira tem guarda-corpos em forma de cactos, feitos em 1969 pelo escultor e entalhador Manxa (1949-2012), autor de obras famosas como os painéis da reitoria da UFRN e do Banco do Brasil do centro, e o monumento dos Reis Magos na entrada de Natal.
Dickson admite que seu “xodó” na casa é o banheiro da suíte do casal: é todo revestido por azulejos pintados a mão, assim como suas louças sanitárias, além das ferragens e válvulas douradas. “É um ambiente enorme e fascinante, que fiz questão de manter igual e funcional. Você vê o bom gosto de um tempo que não existe mais”, afirma.
Apesar de não se considerador um colecionador de arte, Dickson afirma que ele e a esposa sempre gostaram do assunto – além de ter muitos clientes que são artistas plásticos. Obras de alguns deles estão espalhadas pela clínica, como telas de Mocó (potiguar radicados nos Estados Unidos) e peças de César Revorêdo, além de alguns pernambucanos. Ele também pretende criar um pequeno museu de odontologia na antiga biblioteca da casa.
Para Dickson, o apuro na restauração e embelezamento da casa tem um paralelo óbvio com sua profissão. “Trabalho há 30 anos com odontologia estética, um segmento que estimula a autoestima, devolve o sorriso às pessoas. É uma área que exige sim uma sensibilidade artística do profissional”, enfatiza.
Segundo ele, a clínica que parece galeria de arte está se tornando um atrativo por si só. “Eu tenho uns cinco mil clientes cadastrados, e alguns deles não apareciam há mais de 10 anos. Pois muitos reapareceram, curiosos por nosso novo espaço. Acabou sendo um belo marketing para nós, feito sem a intenção de ser um”, conclui.