Ator José Neto Barbosa fala sobre sua carreira

Nascido em Natal, mas criado na cidade de Santo Antônio, na região Agreste do Rio Grande do Norte, José Neto Barbosa, 31 anos, ator, diretor, dramaturgo, produtor, educador e gestor cultural, aprendeu muito cedo a romper barreiras. Ainda criança, ele superou a tradição dos homens de sua família, que na grande maioria se tornaram vaqueiros, e foi em busca de viver um sonho que começou a aflorar quando assistia apresentações de quadrilhas juninas. A partir daí, ele se encantou pela arte, e hoje é um dos artistas mais premiados do Rio Grande do Norte.

Em entrevista ao NOVO Notícias, José Neto Barbosa conta um pouco da sua carreira, desde o início, passando pelas glórias, dificuldades e chegando aos dias atuais, quando sente na pele as dores do preconceito e da censura.

“O ponto era que todos os homens da minha família eram vaqueiros, são vaqueiros de vaquejada mesmo, e eu, ainda quando criança, estava me apaixonando por este movimento de quadrilhas juninas”, conta José Neto, que até teve sua iniciação na arte da ‘vaqueirama’, mas a paixão era mesmo outra: “eu já corri vaquejada e já puxei boi, mas aos poucos eu fui me apaixonando pela energia que os quadrilheiros, que os dançarinos entravam em cena, com muito suor, com brilho no olho, sabe? Naquele momento eu comecei a entender que eu queria emocionar pessoas também. Da mesma forma como estava sendo emocionado”, diz, relembrando que recebeu total apoio de toda a sua família com raízes na tradicional vaquejada.

Começando aos onze anos, sua carreira já lhe rendeu algumas glórias. Uma das mais recentes lhe foi conferida no início deste ano, quando José Neto Barbosa recebeu os prêmios Copergás de Melhor Ator e também de Melhor Espetáculo com a peça “A Mulher Monstro” no Festival Janeiro de Grandes Espetáculos, realizado em Pernambuco. Foi também com essa obra que recebeu o título de melhor monólogo do teatro nacional há alguns anos.

A peça “A Mulher Monstro” é inspirada em um texto de Caio Fernando Abreu, utiliza da linguagem Drag Queen para tratar a atualidade brasileira expondo a figura de uma burguesa cis, falsa religiosa, perseguida pela própria visão intolerante da sociedade, e presa numa jaula, onde se transforma em um verdadeiro monstro.

Como nem tudo são flores, a carreira do artista potiguar enfrentou alguns momentos de crise. Hoje, um dos maiores obstáculos para a carreira na arte é o preconceito e a censura, que passaram a ser cada vez mais constantes, principalmente relacionado à obra “A Mulher Monstro”.

“É muito delicado falar desse assunto porque, às vezes, as pessoas acham e romantizam que a alça passou por um processo de censura. Você denuncia e pronto, você está famoso ou a obra fica famosa por estar envolvida numa polêmica”, conta José Neto, ao mesmo tempo que rebate essa teoria dizendo que, antes de sofrer censura, fazia muito mais apresentações.

Os episódios de censura são vários e em muitos lugares do país, sendo alguns ameaçadores. “Nesse processo eu já levei pedrada em cena, eu já perdi dois patrocínios e fiquei no prejuízo, eu já fui ameaçado de tiro, eu já fui acusado de propaganda eleitoral irregular”, diz o ator potiguar que também sofreu aqui, no seu estado: “em Curitiba eu fui retirado de um espaço municipal, e em Mossoró também aconteceu um caso suspeito sobre isso, mas em ambos os casos eu resolvi apresentar na rua, eu enfrentei e foi um grande sucesso”.

Outro caso aconteceu na Grande Natal. “Em São Gonçalo do Amarante eu abri um festival de teatro, aqui no Rio Grande do Norte, e eu descobri que, entre os vereadores, estava rolando uma carta de repúdio pela minha passagem na cidade”, conta lembrando ainda que a ideia foi abortada depois que os propositores avaliaram a possível repercussão negativa que poderia gerar para eles.

Os ataques sofridos por José Neto e por outros tantos artistas que vêm sendo censurados ao longo dos últimos anos, inspirou a produção de um filme para contar e fazer evidente as denúncias de censura e violência.

No último dia 4 estreou nos cinemas de todo o Brasil o longa-metragem “Quem tem medo?”. O filme conta a história de vários artistas brasileiros que enfrentaram episódios de censura nos últimos anos no nosso país. Um dos casos narrados é sobre José Neto: “Para você ver como é essa coisa e como isso me engatilha. Eu não consigo assistir o filme sem ter uma crise de choro e quase pânico com ele”, diz o potiguar. “Eu quero que as pessoas vejam, é um registro histórico do que passei, mas dói muito”, completou.