A Polícia Civil do Rio de Janeiro está checando cerca de 30 procedimentos cirúrgicos em que o médico Giovanni Quintella Bezerra atuou desde abril, quando concluiu sua especialização em anestesia. O médico está preso desde a madrugada de segunda-feira (11), após ter sido flagrado em vídeo estuprando uma parturiente na mesa de parto, durante uma cesárea. Os investigadores querem saber o tipo de medicação utilizada pelo anestesista em cada uma das cirurgias. A partir daí, vão averiguar se ele cometeu outros abusos.
“Nós vamos investigar, fazer uma triagem, ver quais foram os procedimentos, e aí vamos aprofundando”, disse ontem a delegada Bárbara Lomba, titular da Delegacia de Atendimento à Mulher de São João de Meriti e que está à frente do caso. “São mais de 30, já identificados como possíveis (casos).” A delegada iria ouvir ontem outras duas pacientes que foram atendidas pelo médico no domingo. Na quarta, ela telefonou para a vítima que foi filmada sendo estuprada, para prestar solidariedade. O depoimento dela ainda não foi colhido.
A Secretaria de Estado de Saúde (SES) informou que a mulher que sofreu o abuso — flagrado e denunciado por profissionais de saúde — foi atendida por uma equipe multidisciplinar do próprio Hospital da Mulher Heloneida Studart após o estupro.
“Essa conversa aconteceu antes da alta da paciente, da terça-feira, dia 12, e foi acompanhada por familiares. A paciente recebeu todas as informações e medicações que compõem o protocolo para vítimas de violência sexual”, informou a SES.
Segundo a delegada, a mulher identificada como vítima está muito abalada. Bárbara Lomba contou que foi muito delicada a conversa que teve por telefone com a mulher. “Eu, na verdade, quis falar com ela mais para prestar solidariedade e dizer que se sinta protegida, não será exposta, que o agressor está preso e nós faremos tudo que estiver ao nosso alcance para terminar a investigação e comprovar esse crime. Então, a tranquilizei neste sentido. Perguntei como ela estava e como estava o filho. Ela chorou, se emocionou, disse que está muito abalada psicologicamente, mas se colocou à disposição”, informou.
A policial acrescentou que há possibilidade de a vítima prestar depoimento em outro lugar, que não seja na delegacia. O marido só vai depor no mesmo dia em que a mulher for ouvida. “Estou aguardando a advogada entrar em contato. Vamos perguntar [se] ele [o médico] estava presente em uma parte do procedimento e a própria vítima, o que eles viram antes e depois do fato. Ele narra que foi pedido para que saísse da sala assim que o bebê nasceu, que era justamente quando o criminoso executava o crime”, concluiu.
Para a delegada, a repetição do crime praticado pelo anestesista é porque ele tinha a sensação de que não seria punido. “Ele não achou que houvesse uma audácia e uma coragem muito [grande] da equipe de enfermagem de fazer essa gravação, jamais contou com isso e há toda uma circunstância de posição dentro de um hospital. Ele contava que não fosse ser pego, tanto que se surpreendeu quando foi dito a ele que havia uma imagem”, afirmou.