Insegurança preocupa os comerciantes na zona Leste de Natal

A insegurança nos bairros históricos da Ribeira da Cidade Alta, na zona Leste de Natal, preocupa moradores e comerciantes da região, que temem roubos, furtos e arrombamentos. As práticas criminosas vêm se tornando comum nos bairros, segundo relatam trabalhadores.
Somente no último mês de abril, na Cidade Alta, 91 ocorrências de furtos e roubos foram registradas nas delegacias da capital. No mesmo período do ano passado, o número de ocorrências atendidas pela polícia também foi considerado alto: 86 furtos ou roubos. Os dados são da Secretaria de Estado da Segurança Pública e da Defesa Social (Sesed/RN).
Na segunda-feira (16), uma clínica de odontologia foi invadida na madrugada do dia anterior. Uma das responsáveis pelo estabelecimento disse que as investidas dos criminosos estão cada vez mais frequentes. “A gente sempre ouvia falar de furtos, arrombamentos aqui na região, mas a gente também acha que nunca vai acontecer com a gente”, conta Nelma Araújo. “Foram quatro bandidos, que entraram aqui na madrugada e tentaram levar uma escada de ferro e um botijão de gás”, acrescenta.
Nelma diz que conseguiu recuperar o botijão de gás com a ajuda de um vigilante, mas afirma sentir falta de patrulhamento da polícia no local. “A gente se sente cada vez mais inseguro porque é muito roubo que tem acontecido aqui. Ainda bem que foi na parte da madrugada e não tinha ninguém atendendo porque podia até acontecer uma tragédia, a gente nunca sabe. Nosso desejo, do pessoal ali da região toda, é que seja reforçado o policiamento porque a situação está muito complicado para a gente que trabalha e mora na Cidade, na Ribeira”, comenta uma das proprietárias da clínica.
O estabelecimento de Nelma não foi o único que sofreu com ações criminosas recentemente. A um quarteirão da clínica, a sede do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio Grande do Norte (Sindjorn) também foi invadida por duas vezes em um intervalo de 11 dias. Da última vez, no dia 10 de maio, os criminosos furtaram um aparelho de ar-condicionado, uma evaporadora de ar e, até mesmo, uma torneira, que foi arrancada da pia. O primeiro arrombamento foi registrado em 30 de abril, quando foram roubados computador, impressora, documentos e outros aparelhos eletrônicos.
Para o presidente do sindicato, Alex Othon, a situação denuncia o momento crítico de insegurança no bairro. “Acho que poderia ter uma ação ostensiva maior da Polícia Militar ali na região, até porque não foi só o sindicato que foi arrombado, outros estabelecimentos, comércios também foram roubados na região. Quando a polícia. A gente percebe também que falta uma política pública porque o que se sabe, o que se comenta na região, é que essas pessoas roubam para suprir o consumo de drogas”, pontua.
Segundo Othon, a falta de policiamento acaba passando um recado para os criminosos. Ele teme que novos arrombamentos sigam acontecendo. “Nós estamos reforçando a segurança da sede, o portão de ferro, mas a gente fica apreensivo de que novas investidas possam ocorrer no futuro. No nosso caso foram dois roubos em menos de 15 dias porque os bandidos viram que existia essa brecha do policiamento e voltaram a tentar de novo. É uma situação que muito nos preocupa mesmo”, diz o jornalista.
Na parte baixa, na Ribeira, comerciantes também sofrem com a ameças dos criminosos. Também de acordo com informações da Coordenadoria de Informações Estatísticas e Análise Criminal (Coine) da Sesed, 11 furtos ou roubos foram registrados no bairro. O número é menor do que o contabilizado em abril de 2021, quando a Polícia Civil recebeu 17 ocorrências. Mesmo assim, os crimes seguem acontecendo e tiram o sono da população e de comerciantes.
É caso do mecânico Alcione de Souza, que tem uma oficina na Ribeira. No mês passado, o estabelecimento dele foi arrombado por homens que roubaram um escâner, computadores, caixa de ferramentas e câmeras de segurança. “Entraram aqui e levaram essas coisas, é um prejuízo para quem trabalha aqui, tenta ganhar o pão de cada dia. A gente fica nessa insegurança porque se aconteceu uma vez, pode acontecer de novo. Poderiam colocar umas viaturas aqui, fazer uma ronda para ver se isso diminui porque tá demais”, diz.
Alcione declara ainda que após o roubo, houve uma nova tentativa de invasão da oficina. “É isso que a gente diz, como não tem policiamento, o cara volta. Dessa vez, a sorte foi que tinha um cara aqui e viu quando eles estavam tentando entrar pelo teto. Eles correram, ia passando uma viatura na hora, mas não conseguiram pegar. A gente fica com medo de que isso continue acontecendo, é uma situação complicada de mais para a gente que vive aqui”, diz o mecânico.
Polícia diz que atua para coibir crimes na região
As polícias Militar e Civil informaram que planejam ações na região para coibir a prática de novos roubos e furtos. O delegado Renê Lopes disse que a corporação desenvolve ações de investigação e de combate à recepção. “A PC vem fiscalizando, em conjunto com outras instituições estatais, estabelecimentos que revendem produtos/objetos mais visados pelos furtadores, além de atuar na identificação e prisão desses indivíduos”, destaca.
Ainda de acordo com a Polícia Civil, o perfil do assaltante geralmente tem relação com aspectos sociais. “Geralmente são pessoas em situação de rua, dependentes químicos e indivíduos já com passagens criminais”, diz Lopes. As investigações da PC apontam que itens como cobre são vendidos em sucatas e que objetos, especialmente celulares e outros aparelhos eletrônicos, são vendidos em pontos de venda de drogas ou revendidos por preços bem abaixo dos de mercado.
A Polícia Militar disse que também tem ações coordenadas na área. “A PM tem trabalhado com ações diversas na área, que seria atribuição do 1º Batalhão, fizemos operações em Mãe Luiza, blitz, então todas as modalidades de policiamento têm sido empregadas na área, na tentativa de coibir esse tipo de atuação. Temos trabalhado em conjunto com a Rocam [Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas], com policiamento a pé, reforço do policiamento, então temos realizados algumas ações na área”, destacou.
Veículos
A Secretaria da Segurança Pública e da Defesa Social do Rio Grande do Norte (Sesed) registrou uma redução de 13% no total de furtos e roubos de veículos no primeiro trimestre do ano. A comparação é com o mesmo período de 2021.
Com base nos dados fornecidos pelas forças de segurança e consolidados pela Coordenadoria de Informações Estatísticas e Análises Criminais da Sesed, de 1º de janeiro a 31 de março de 2022, foram registrados 990 crimes de roubos ou furtos de veículos. No comparativo com o mesmo período de 2021, foram registrados 1.139 crimes, o que equivale a redução de 13%.
Se o período de 2022 for comparado com o mesmo de 2020, a queda é ainda maior. Foram registrados 1.969 roubos e furtos dois anos atrás, o que representa uma redução de 50,07% na comparação com este ano.
Do total de 990 veículos roubados ou furtados em 2022, as forças de segurança conseguiram recuperar 569 veículos (57%). Em 2021, da quantidade de 1.139 veículos com queixa de roubo ou furto, 836 veículos foram recuperados (73%). Para o ano de 2020, de 1.969 veículos, 781 veículos foram recuperados (40%).