Casos de dengue aumentam 1.233% em Natal; SMS vê epidemia

A capital potiguar registrou 3,2 mil casos de dengue notificados entre janeiro deste ano e as duas primeiras semanas de de maio, de acordo com o Departamento de Vigilância em Saúde (DVS) de Natal. No comparativo com igual período do ano passado, o aumento de notificações é de 1.233,33%. Natal registrou 240 notificações de dengue entre janeiro e a primeira quinzena de maio do ano passado. Com o cenário atual, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS/Natal) declarou que a cidade vive uma epidemia de dengue.

Segundo a diretora do DVS, Vaneska Gadelha, um gabinete de crise foi instalado em razão da epidemia para intensificar os trabalhos de combate e tratamento dos focos do mosquito. No âmbito dos trabalhos, explica Gadelha, o Centro de Controle de Zoonoses de Natal (CCZ) identificou, por exemplo, que o descarte irregular de pneus em vias públicas é o principal criadouro para o Aedes aegypti na cidade.
“Os pneus estão se tornando criadouros em potencial disparados em toda a cidade. Há três semanas que nós estamos recolhendo de forma não oficial esse material (a Urbana já recolhe de forma oficial junto a borracharias cadastradas)”, esclarece a diretora do DVS. Segundo ela, uma  força-tarefa entre o CCZ, a Companhia de Serviços Urbanos de Natal (Urbana) e a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (Semsur) foi montada para o recolhimento.
Vaneska Gadelha afirma que são quase 3 mil pneus recolhidos por semana. Desses, 60% representam foco positivo para a dengue. Todo o material é levado para um galpão coberto da Urbana, de onde é destinado às empresas produtoras de pneus. “Existe uma lei que responsabiliza as empresas pelo lixo que elas produzem. Portanto, é delas o dever de descartar esses produtos”, esclarece a diretora do DVS.
Mas o material recolhido em vias públicas não é a única preocupação do Departamento de Vigilância em Saúde de Natal. A deficiência em vistorias a residências em alguns bairros de Natal também tem mantido aceso o sinal de alerta do DVS. Isso porque, segundo Vaneska Gadelha,  de cada 10 imóveis  visitados, 7 apresentam focos do Aedes aegypti. “A  deficiência não questão das vistorias se dá pela dificuldade das pessoas em aceitar a visita do agente de endemias. Há também o problema dos imóveis fechados”, afirma.
“Por isso nosso apelo é para que as pessoas deixem os agentes entrarem em suas casas. Se houver dúvidas em relação à identidade desse agente, o morador pode ligar para o CCZ e informar a matrícula do funcionário que receberá uma confirmação”, acrescenta Gadelha.
Sobre os imóveis fechados, a diretora do DVS esclarece que há um esforço para a localização dos donos ou responsáveis a fim de que sejam realizadas as vistorias nesses locais. “O CCZ está sempre na situação de tentar localizar o dono e de pedir para alguém responsável vir até a casa para permitir a vistoria”, disse Vaneska Gadelha.
Durante as visitas, segundo a diretora do DVS, é realizado o trabalho de averiguação, eliminação e tratamento dos focos. Também há orientações aos moradores sobre os riscos e sobre as formas de solução do problema.
Potenciais focos preocupam natalenses
Com o aumento dos casos de dengue em toda a cidade, muitas pessoas têm se preocupado com potenciais criadouros do mosquito Aedes aegypti. Ana Karina procurou a imprensa para denunciar o acúmulo de água em um tanque no prédio vizinho onde ela mora, no bairro de Petrópolis, zona Leste de Natal.
“A água estava acumulada lá há quase três anos. Fiz denúncia nos distritos de Saúde do Município, procurei o síndico e o porteiro do prédio para reclamar, mas nada. Levei o caso para a imprensa nesta semana e no dia seguinte fizeram a limpeza. Mas a minha preocupação é porque o local está sem utilização e o meu medo é que o problema retorne”, relatou Ana Karina.
Outra situação que chamou atenção nas redes sociais é o estado de abandono da piscina da Associação dos Subtenentes e sargentos do Exército (Assen), localizada no bairro do Tirol, na zona Leste. A TRIBUNA DO NORTE esteve no local e observou que a piscina apresenta manchas escuras no fundo e lodo em algumas partes.
“São microalgas mortas que se acumularam aí. A água está sendo tratada pelo CCZ, que vem aqui todos os meses. Nós estamos preocupados com a situação, mas temos um documento do CCZ dizendo que o local não apresenta risco potencial para criação de mosquito da dengue. A gente não consegue esvaziar a piscina porque invadiram a Associação e roubaram o motor que aciona a bomba e faz a drenagem”, explicou o secretário da Assen, José Sobrinho.
Vaneska Gadelha, do  Departamento de Vigilância em Saúde de Natal disse à TRIBUNA DO NORTE que o problema no condomínio relatado por Ana Karina foi solucionado. Em relação à Assen, Gadelha explicou que foi feita uma  solicitação ao proprietário para a resolutividade completa da situação. “Fomos ao local, tratamos o que foi possível e pedimos a solução integral ao dono, que seria a limpeza ou o soterramento da piscina”.
O mosquito da dengue põe seus ovos em recipientes artificiais, tais como latas e garrafas vazias, pneus, calhas, caixas d’água descobertas, pratos sob vasos de plantas ou qualquer outro objeto que possa armazenar água de chuva. O mosquito pode procurar ainda criadouros naturais.
População deve ficar atenta a sintomas
Momentos de epidemia como a capital potiguar vivencia atualmente em relação à dengue exigem medidas que melhorem o bem-estar das pessoas e evitem mortes. A análise é do infectologista e diretor clínico do Grupo Fleury, Celso Granato. Para ele, medidas como combate aos focos do vetor permanecem válidas, embora elas não tenham a mesma eficácia de antes da disseminação em série da doença.

“Ações como o combate com o carro fumacê e remédios que matam os ovos do mosquito devem ser constantes, mas isso é algo que precisa ser feito antes de um cenário como o atual. Isso porque o mosquito, ao longo do ano, vai colocando ovos pela natureza que são muito resistentes (sobrevivem até dois anos). Quando chove – estamos num período de muita chuva em Natal, acontece a eclosão desses ovos e os mosquitos que saem deles já nascem contaminados”, esclarece.
Para ele, o mais importante agora é orientar a população sobre o momento ideal de buscar atendimento médico, já que a doença, em geral, não representa alto risco de morte, mas pode evoluir para casos graves, especialmente naqueles já acometidos anteriormente.
“A dengue existe no Nordeste há  mais de 30 anos. Uma parte grande da população já teve doença. Então, quem está sendo contaminado pela  pela segunda ou terceira vez, tem mais chances de dengue hemorrágica”, explica Granato.
Segundo o infectologista, nesses casos é importante a população saber a hora de procurar ajuda médica. “Quando a pessoa começa a ter muita náusea, enjoo, vômito e muitas dores na barriga (que são provocadas pela inflamação dos gânglios) e, principalmente, sangramentos”. O médico esclarece que, nos casos de dengue hemorrágica, podem ocorrer sangramentos na gengiva, especialmente durante a escovação, no nariz e durante a urina.
As mulheres podem apresentar volume de sangue na menstruação maior do que o natural. O tratamento é feito à base de hidratação. “Mas muita gente nem consegue beber água por causa das náuseas e enjoos. Então, é preciso ir ao hospital para fazer hidratação na veia, onde se consegue dar muito volume de sangue ao paciente sem que ele vomite”, orienta Celso Granto.