Inflação de março é a mais elevada para o mês desde 1994, aponta IBGE

Rio (AE) – A inflação mostrou mais uma vez que não está disposta a dar trégua. Em março, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) atingiu 1,62%, o maior patamar para o mês desde 1994, antes do lançamento do Plano Real. Em 12 meses, acumula um avanço de 11,3%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

O indicador, puxado pelos preços dos combustíveis e dos alimentos, foi uma surpresa negativa para o mercado, que esperava um avanço de 1,35%. Considerando todos os meses do ano, o IPCA de março foi o mais elevado desde janeiro de 2003, quando esteve em 2,25%. No mês de março de 2021, o IPCA tinha sido de 0,93%. A taxa em 12 meses passou de 10,54% em fevereiro para 11,30% em março, de acordo com o IBGE, resultado mais elevado desde outubro de 2003, quando estava em 13,98%. A meta de inflação para este ano perseguida pelo Banco Central é de 3,50%, que tem teto de tolerância de 5%.
Por conta disso dessa alta de março, os economistas voltaram a subir as projeções de inflação para o ano – que chegam a ultrapassar os 8%. A LCA Consultores, por exemplo, elevou de 7,5% para 8% a sua projeção para o IPCA, após a surpresa para cima com o resultado de março. Em relatório, Fábio Romão, economista da consultoria, disse que os dados sugerem pressões disseminadas à frente. O Itaú revisou sua projeção de 6,5% para 7,5%. O Credit Suisse espera inflação de 7,8% no ano, e o Bank of America projeta 8%.
O banco BNP Paribas tem projeção ainda mais pessimista: 8,5% no ano. “A surpresa (com o IPCA de março) teve vários componentes, não vejo explicações pontuais. Seguimos bastante preocupados com a dinâmica inflacionária”, disse o chefe de pesquisa econômica para América Latina do banco, Gustavo Arruda.
Os dados reforçam a perspectiva de novos aumentos na taxa básica de juros, a Selic, avaliou o economista-chefe da corretora Necton Investimentos, André Perfeito. Ele espera uma alta de 1 ponto porcentual na Selic na reunião de maio do Comitê de Política Monetária do Banco Central, seguida de um outro aumento de 0,5 ponto em junho, para o patamar de 13,25% ao ano.
Combustíveis e alimentos puxam resultado
Os combustíveis e os alimentos foram os grandes responsáveis pela inflação de 1,62% em março, a maior para o mês desde 1994. O grupo Transportes, no qual ficam os combustíveis, teve alta de 3,02% no mês, enquanto o grupo Alimentação e Bebidas subiu 2,42% Juntos, eles responderam por 72% do IPCA de março.
Só os combustíveis, reajustados nas refinarias pela Petrobras em 11 de março, foram responsáveis por 0,56 ponto porcentual da taxa do IPCA. No entanto, as elevações nesses preços costumam afetar os demais produtos e serviços da economia, contaminando a inflação como um todo por meio de diferentes componentes, explicou Pedro Kislanov, gerente do Sistema de Índices de Preços do IBGE.
A gasolina subiu 6,95% nas bombas, o óleo diesel aumentou 13,65% e o gás veicular ficou 5,29% mais caro. O gás de botijão, por sua vez, aumentou 6,57% – mas ontem a Petrobras anunciou uma redução nos preços (ver página B6).
Os aumentos influenciaram diretamente itens como transporte por aplicativo (7,98%) e etanol (3,02%), mas também outros componentes, como os alimentos consumidos no domicílio (3,09%), por conta do encarecimento do frete.
“A gente tem diversos outros componentes do IPCA (contaminados pelos combustíveis), não tem como especificar, porque o custo do frete acaba afetando todos os outros itens da economia”, disse Kislanov. “De fato, o que acontece quando você tem uma alta do diesel e da gasolina é que tem um efeito em toda a economia. Todos os preços acabam sendo afetados, e isso acaba sendo repassado ao consumidor final”, afirmou Kislanov.
“Os alimentos também são afetados por condições climáticas, sem dúvida, mas os combustíveis encarecem o custo do frete”, disse o gerente do IBGE. Nos alimentos comprados em feiras e mercados, os destaques negativos foram tomate, cenoura, frutas, cebola, açaí e leite.
Nos alimentos comprados em feiras e mercados, para consumo em casa, os destaques negativos foram tomate, cenoura, frutas, cebola, açaí e leite. “A gente observou altas bastante expressivas. Essas altas são explicadas não só por questões climáticas, mas muito provavelmente também pelo aumento do custo do frete, do aumento do diesel”, disse o economista do IBGE.
No entanto, houve aumentos também em derivados de commodities agrícolas pressionadas no mercado internacional pela invasão da Ucrânia pela Rússia, como o óleo de soja e o pão francês. A coleta de preços para o IPCA de março abrange exatamente o primeiro mês de guerra, de 25 de fevereiro a 30 de março.
“O impacto mais claro que a gente teve foi nos preços dos combustíveis,” disse Kislanov. “As altas de alguns preços de commodities agrícolas podem estar relacionadas à guerra, mas a gente não tem como cravar que o resultado A ou B é resultado direto da guerra.”
Difusão
 O índice de difusão do IPCA, que mostra o porcentual de itens com aumentos de preços, teve ligeira alta de 75%, em fevereiro, para 76,13% em março – maior porcentual desde fevereiro de 2016. “A difusão mostra a inflação mais espalhada do que no ano passado”, disse Kislanov.
A difusão de itens alimentícios estava em 74% em fevereiro e assim permaneceu em março, enquanto a difusão de itens não alimentícios passou de 75%, em fevereiro, para 78% em março.