O reitor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Valdiney Veloso Gouveia, tem chamado a atenção nos últimos dias após ser aprovado para cursar uma nova graduação na instituição que ele dirige. Graduado em Psicologia pela mesma universidade e em Direito por uma instituição privada, ele é lotado na UFPB como professor do Departamento de Psicologia, possui especialização, mestrado e doutorado na área da psicologia e está como reitor da Universidade desde novembro de 2020, quando foi nomeado pelo presidente Jair Bolsonaro.
Valdiney Veloso foi aprovado no Sistema de Seleção Unificada (SiSu) para o curso de graduação em Engenharia de Produção, classificado com uma nota total de 638,9, por meio de cotas sociais por ter concluído o ensino médio em escola pública. Ele confirmou a aprovação e em suas redes sociais publicou uma cópia do comprovante de conclusão do ensino médio em uma instituição pública, mas se limitou a isso, dizendo não comentar o episódio por se tratar de uma decisão de foro pessoal.
As normas regimentais da instituição e do SiSu não versam sobre situações como essa e portanto não há nenhum impedimento para que ele assuma a vaga e curse uma nova graduação. Contudo, o Sindicato de Professores da Universidade Federal da Paraíba (AdufPB), após comentar a ausência de impeditivos por meio de uma nota, levantou pontos que podem ser considerados antiéticos.
- Tirar uma vaga de alguém que possa estar começando sua vida, vindo de escola pública, buscando a sua primeira graduação, tendo em vista a escassez de vagas disponíveis nessa modalidade. Ser cotista é pra quem necessita da cota, uma forma de reparação de inúmeras injustiças sociais cometidas pelo Estado. Será que esse sujeito, sendo professor titular da UFPB e reitor, ainda nas condições que se deram, sem o aval da comunidade universitária, precisa de cota para fazer uma segunda graduação?
- Os cargos de direção exigem integralidade e disposição. Como garantir a qualidade da gestão sendo estudante, ou a excelência de estudante sendo reitor? Talvez essas duas funções, do ponto de vista qualitativo, sejam incompatíveis”, diz a nota da AdufPB.
MPF quer informações sobre legalidade da aprovação
O Ministério Público Federal na Paraíba solicitou à Pró-reitoria de Graduação da UFPB informações sobre a legalidade da aprovação de Valdiney Veloso Gouveia, reitor da instituição, no curso de Engenharia de Produção, por meio do SiSu, com classificação obtida por meio de cotas sociais por ele ter concluído o ensino médio em escola púbica.
O órgão ministerial quer apurar se houve favorecimento ou violação de regras para ingresso do reitor na universidade, através do sistema de cotas. A Pró-reitoria de Graduação tem prazo de dez dias para se manifestar sobre o assunto.