Mercado de locação volta a aquecer no Rio Grande do Norte

Depois de um 2020 com um cenário difícil por causa da pandemia de covid-19, o mercado de locação de imóveis comerciais em Natal voltou a respirar em 2021. De acordo com estimativas do Conselho Regional de Corretores de Imóveis do Rio Grande do Norte (CRECI-RN), no último trimestre do ano passado, a cada grupo aproximado de 60 pessoas que desejavam alugar um estabelecimento comercial, 40% efetivaram contratos. Em igual período de 2020, considerado o mesmo grupo aproximado de pessoas, o número de negócios fechados foi de 35%.

O acréscimo é considerado tímido pelo diretor-secretário do CRECI-RN, Moisés Marinho, mas representa certo alívio, uma vez que, os dados de 2020, conforme recorte, indicam uma queda de 20% em relação ao último trimestre de 2019, antes da chegada da pandemia ao Estado.
Em números reais, nos três últimos meses de 2020 foram fechados, aproximadamente, 21 contratos de locação comercial. No derradeiro trimestre do ano passado, o número subiu para 24, em média, quantitativo ainda abaixo de 2019, com cerca de 26 contratos do tipo, no período. Para este ano, a expectativa é de crescimento, embora o diretor-secretário do CRECI-RN reconheça que a expansão depende dos rumos da pandemia.
 “Se a crise sanitária deixar, a partir de junho teremos a consolidação do crescimento dos números relacionados ao mercado de locação de imóveis comerciais. Este mês de janeiro a gente observa certa estagnação, o que é comum por causa do período de veraneio. Sem falar que estamos com muitos casos de covid e gripe”, observa Marinho. As causas para o aumento da procura por locação comercial, de acordo com empresários do setor, se dão por conta do aumento dos custos das lojas de shopping, que têm sido afetadas também por restrições impostas pela pandemia.
Mas outros fatores podem explicar o crescimento do setor. “Em vias que canalizam um maior trânsito de veículos, nós observamos um bom fluxo de locação. Mas em locais onde não existem esses corredores [de trânsito], a gente percebe, inclusive, uma tendência tímida de queda”, detalha o diretor-secretário do CRECI-RN. Segundo ele, eixos como as avenidas Prudente de Morais, Hermes da Fonseca e Alexandrino de Alencar estão entre os locais com maior procura para aluguel.
Em outras regiões, porém, mesmo em bairros cortados por essas vias, a busca tende a ser menor. É o caso de Petrópolis e Tirol, onde a procura tem sido tímida em regiões mais afastadas dos corredores de trânsito.  No Centro da cidade também há registros de menos procura por aluguéis comerciais.
Apesar do crescimento dos negócios, Moisés Marinho, do CRECI, afirma que problemas como dificuldades para manter os pontos alugados têm sido comuns. Segundo ele, a cada 100 inquilinos, cerca de 30% procuraram rescindir ou negociar contratos em 2021. Uma das causas para o problema seria as constantes variações do Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M).
No ano passado, o índice, principal indexador usado para corrigir anualmente o valor dos aluguéis, chegou a acumular alta de 32%. Com a escalada, conforme afirma Marinho, metade dos inquilinos que buscaram negociar contratos em 2021, conseguiram manter os preços dos aluguéis sem reajuste ou com aumento mínimo.
“Os acordos dependiam do tempo em que o inquilino estivesse ocupando um determinado estabelecimento e de como era sua relação com o locador. O segmento do inquilino também influenciou nas negociações”, explica Moisés Marinho.
Ricardo Abreu, da Abreu Imóveis está animado com o novo cenário. Ele conta que os impactos negativos provocados pela crise sanitária ficaram para trás, mais especificamente, em 2020. “Recebemos uma solicitação enorme para negociação de aluguel naquele ano. Muita gente passou por dificuldades no próprio negócio e houve também um aumento muito grande do IGP-M”, relata o empresário.
“Também não podemos esquecer que muitas empresas ficaram fechadas e não puderam pagar o aluguel. Mas coube fazer acordos caso a caso e tudo foi se equacionando. Do meio do ano passado para cá, praticamente não tivemos renegociação”, acrescenta Ricardo Abreu.
O presidente do Sindicato de Habitação do RN (Secovi), Renato Gomes Netto, diz que o órgão não tem estatísticas, mas que a percepção, desde junho de 2020, é que a procura por imóveis comerciais de rua tem crescido substancialmente. “Ficou difícil de se manter dentro de shoppings ou centros comerciais, e os comerciantes começaram a procurar pontos nas ruas, e essa tendência ficou mais acentuada após março/abril do ano passado”, disse ele.
Bairros como Petrópolis e Tirol têm sido os mais procurados, citou o presidente do Secovi/RN. “Começamos a perceber muitas lojas pequenas abrindo em alguns pontos, como Alexandrino de Alencar com Romualdo [Galvão], lá foram de 7 a 8 lojas, otdas ocupadas muito rapidamente; também na Rua São José, e agora no Jaguarari Center, em finalização, a procura está enorme, e todos os centros tvieram construção iniciada durante a pandemia”, comenta.
Setor espera novos empreendimentos
As empresas que trabalham com locação de estabelecimentos comerciais avaliam o momento como uma oportunidade para fazer os negócios crescerem em 2022. Na NL Imóveis, por exemplo, a meta é bater os números de 2021, que já apresentou crescimento em relação a 2020 (de 30%). O novo Plano Diretor de Natal (PDN), além de fatores como maior acessibilidade para clientes, com ampliação de vagas de estacionamento em canteiros de avenidas movimentadas da capital e o aumento dos aluguéis em lojas de shoppings, devem alavancar a procura pela busca de locação de imóveis comerciais de rua.
“Existe uma saída [de inquilinos] de lojas de shopping para a loja de rua, uma vez que esses grandes centros comercias têm sofrido com as diversas restrições adotadas em razão da pandemia. Sem contar que o custo nesses locais ficou elevado. Portanto, é uma tendência que nós estamos enxergando. Também houve melhorias de acessibilidade, porque grandes avenidas liberaram o estacionamento próximo a canteiros”, analisa Yuri Leite, CEO da NL Imóveis.
A empresa está animada com o novo Plano Diretor, já que, os impactos das mudanças, nesse sentido, devem gerar benefícios em cadeia. “Estamos muito entusiasmados com o Plano Diretor, porque, apesar de estarmos falando de áreas alocadas para comércio, o PDN gera novos empreendimentos residenciais e isso faz com que o dinheiro circule no mercado. Ou seja, esse dinheiro será consumido em áreas comerciais. Então, o mercado imobiliário ganha com um efeito em cadeia, que é importantíssimo”, relata Leite.
Para Ricardo Abreu, da Abreu Imóveis, o momento também é de comemoração e boas perspectivas. Na corretora, os contratos de aluguel comercial no ano passado cresceram 55,40% em comparação a 2020. Além disso, na última sexta-feira (21), a quantidade de locações firmadas já havia superado todo o mês de janeiro de 2021. Os motivos para os bons números, de acordo com o empresário, são semelhantes aos elencados por Yuri Leite, da NL Imóveis.
“Estamos vivendo um momento muito forte, por causa do custo dos shoppings, que está bem elevado e também por causa das restrições nesses locais. Com isso, muitas empresas estão migrando para lojas comerciais de ruas, em pequenas alamedas e outras regiões”, detalha Abreu.
A tendência, segundo ele, é que o cenário permaneça em 2022: “O crescimento vai continuar muito forte este ano, porque a consolidação de lojas de rua é uma realidade no mundo todo, com os comércios de bairro”. Ricardo Abreu destaca, ainda, os segmentos que mais têm buscado locações comerciais.
“O setor de saúde está muito forte. As clínicas começam o movimento de abrir várias unidades em diferentes partes da cidade, o que leva uma parte do setor de comércios para as áreas onde elas estão instaladas. E é uma alocação fácil de fazer. O setor de farmácia, que já foi muito forte na cidade, ainda continua bem ativo e os home centers também estão em alta”, explica Ricardo Abreu.
Negociação
Para Moisés Marinho, do CRECI-RN, o cenário de lojas fechadas, sem inquilino, vai ficar para trás até o final de 2022, se a pandemia ajudar. E, no rol da consolidação do crescimento, ele orienta: candidatos a inquilinos precisam de uma boa consultoria na hora de alocar um imóvel. “Muita gente busca alugar um imóvel sem nenhum respaldo e às vezes cai em ciladas”, diz.
“E aí, ele pode encarar os seguintes problemas: o preço não é exatamente como prometido, ou o imóvel não está em boas condições e há casos até onde as pessoas alugam um estabelecimento que nem existe. O que nós orientamos é consultar o site do CRECI (crecirn.gov.br), para checar se o corretor é credenciado. Isso é garantia de uma locação bem feita, de um contrato seguro e que, hoje nós pedimos que seja assessorado também por um advogado”, indica Moisés Marinho.
Para quem já alugou um imóvel comercial e está pensando em rescindir o contrato por causa de reajustes, a dica, segundo o diretor-secretário do CRECI, é diálogo. “Os bons inquilinos têm mais chances de conseguir reajustes menores. A palavra hoje é negociação, porque os locadores entendem que não adianta forçar um aumento que depois o inquilino não vai poder pagar”, afirma Marinho.